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terça-feira, 1 de maio de 2012

Cartas ao Oceano


Pessoal, resolvi criar um novo projeto, chamado Cartas ao oceano, espero que curtam



“Dizem que a melhor maneira de se encontrar quando se está perdido, é voltando ao início”.


Cartas ao Oceano

Após um naufrágio, apareci em uma ilha remota junto a uns destroços, e remexendo neles a procura de alguma coisa que pudesse me ajudar nessa nova e difícil jornada, encontrei alguns objetos: lona, lanterna, agulha, algumas rações, cadernos, lápis, e canetas, passado algumas semanas, resolvi voltar para o ponto de chegada, e nessa praia desconhecida onde começou a minha trajetória, sentado aqui na beira desta praia desconhecida olhando o oceano resolvi escrever a minha primeira carta ao oceano:

Como eu cheguei aqui? Lembro-me ainda hoje os motivos que me fizeram escolher essa viagem, problemas os quais pareciam enormes bestas prontos a me devorar, noites perdidas de sono remexendo-me na cama como um enfermo sofrendo de dores crônicas e incuráveis, sofria com profundos ferimentos na própria alma, sem que algo ou alguém pudesse curar, sem a possibilidade de uma única luz acessa nas trevas onde me encontrava, sentimentos distintamente confusos: raiva, medo, frustração, decepção dentre outros tantos que preferi não distinguir para não visualizar ainda mais o negro que tinha se tornado meu alvorecer e que não me permitia mais diferenciar amigos de inimigos. E por mais que tentassem de alguma maneira me ajudar a sair deste estado, de certa forma, desesperador, era um precipício que apenas eu poderia escalar. Em algum momento de lucidez, em meio à loucura que havia se tornado minha vida surgiram dois caminhos possíveis a se trilhar, ficar e continuar de forma infrutífera a saída desse abismo, ou viajar, respirar, reaprender toda uma forma de viver e voltar, e aqui estou com a minha escolha, em uma ilha deserta onde a única voz conhecida é a minha própria, olhando para um horizonte desconhecido, em um lugar qualquer no meio do oceano, onde muitos encontrariam o desespero, eu procuro a paz, não sei por quanto tempo ficarei, apenas sei que às vezes isso parece um sonho, onde vou acordar a qualquer momento, ao acordar aqui depois da mais longa noite de minha vida, o cenário que se apresentava a mim, era de uma catástrofe, porque eu estava aqui? Nunca pedira tal coisa pra mim, era agonizante o cenário que se revelava, tudo aquilo que conheci, todas as pessoas que encontrei, tudo o que eu sabia existir foi tirado de mim por aquela tempestade, até hoje me lembro das minhas primeiras palavras, sentado com as pernas cruzadas, olhando ao redor, “o que estou fazendo aqui?”, notado inicialmente como um sussurro, que se transformara em um grito ensurdecedor, aos poucos minhas memórias foram voltando e fui remontando todo o cenário, uma onda de apatia e desespero tomou conta de mim, e somente notei que estava vivo quando tive fome, andei por esta praia, achei alguns destroços, tive a sorte de localizar algumas rações desidratas, não tinha um sabor muito bom, mas deu para enganar a fome, com algumas madeiras improvisadas montei um abrigo, protegido por entre as árvores da vegetação nativa, no fim, entrei embaixo para ver como estava, e desmaiei tamanho o cansaço daquele dia...
Depois de tantas noites mal dormidas, tantas caminhadas para explorar a ilha, e de tantos porquês, resolvi sentar, respirar, olhar em volta e descobri o real significado de estar aqui, aprender a viver uma nova vida, esse foi o meu desejo, que foi atendido. Por vezes para reaprendermos algo, tem que se começar do início, e reaprendi a primeira coisa que tinha esquecido, a gratidão: Obrigado Deus por mais esse dia!