Pessoal, resolvi criar um novo projeto, chamado Cartas ao oceano, espero que curtam
“Dizem que a melhor
maneira de se encontrar quando se está perdido, é voltando ao início”.
Cartas ao Oceano
Após um naufrágio, apareci em uma ilha remota junto a uns
destroços, e remexendo neles a procura de alguma coisa que pudesse me ajudar
nessa nova e difícil jornada, encontrei alguns objetos: lona, lanterna, agulha,
algumas rações, cadernos, lápis, e canetas, passado algumas semanas, resolvi
voltar para o ponto de chegada, e nessa praia desconhecida onde começou a minha
trajetória, sentado aqui na beira desta praia desconhecida olhando o oceano
resolvi escrever a minha primeira carta ao oceano:
Como eu cheguei aqui? Lembro-me ainda hoje os motivos que me
fizeram escolher essa viagem, problemas os quais pareciam enormes bestas
prontos a me devorar, noites perdidas de sono remexendo-me na cama como um
enfermo sofrendo de dores crônicas e incuráveis, sofria com profundos
ferimentos na própria alma, sem que algo ou alguém pudesse curar, sem a
possibilidade de uma única luz acessa nas trevas onde me encontrava,
sentimentos distintamente confusos: raiva, medo, frustração, decepção dentre
outros tantos que preferi não distinguir para não visualizar ainda mais o negro
que tinha se tornado meu alvorecer e que não me permitia mais diferenciar
amigos de inimigos. E por mais que tentassem de alguma maneira me ajudar a sair
deste estado, de certa forma, desesperador, era um precipício que apenas eu
poderia escalar. Em algum momento de lucidez, em meio à loucura que havia se
tornado minha vida surgiram dois caminhos possíveis a se trilhar, ficar e
continuar de forma infrutífera a saída desse abismo, ou viajar, respirar,
reaprender toda uma forma de viver e voltar, e aqui estou com a minha escolha,
em uma ilha deserta onde a única voz conhecida é a minha própria, olhando para
um horizonte desconhecido, em um lugar qualquer no meio do oceano, onde muitos
encontrariam o desespero, eu procuro a paz, não sei por quanto tempo ficarei,
apenas sei que às vezes isso parece um sonho, onde vou acordar a qualquer
momento, ao acordar aqui depois da mais longa noite de minha vida, o cenário
que se apresentava a mim, era de uma catástrofe, porque eu estava aqui? Nunca
pedira tal coisa pra mim, era agonizante o cenário que se revelava, tudo aquilo
que conheci, todas as pessoas que encontrei, tudo o que eu sabia existir foi
tirado de mim por aquela tempestade, até hoje me lembro das minhas primeiras
palavras, sentado com as pernas cruzadas, olhando ao redor, “o que estou
fazendo aqui?”, notado inicialmente como um sussurro, que se transformara em um
grito ensurdecedor, aos poucos minhas memórias foram voltando e fui remontando
todo o cenário, uma onda de apatia e desespero tomou conta de mim, e somente
notei que estava vivo quando tive fome, andei por esta praia, achei alguns
destroços, tive a sorte de localizar algumas rações desidratas, não tinha um
sabor muito bom, mas deu para enganar a fome, com algumas madeiras improvisadas
montei um abrigo, protegido por entre as árvores da vegetação nativa, no fim,
entrei embaixo para ver como estava, e desmaiei tamanho o cansaço daquele
dia...
Depois de tantas noites mal dormidas, tantas caminhadas para
explorar a ilha, e de tantos porquês, resolvi sentar, respirar, olhar em volta
e descobri o real significado de estar aqui, aprender a viver uma nova vida,
esse foi o meu desejo, que foi atendido. Por vezes para reaprendermos algo, tem
que se começar do início, e reaprendi a primeira coisa que tinha esquecido, a
gratidão: Obrigado Deus por mais esse dia!